Dando continuidade à série de posts sobre lugares do Rio de Janeiro para visitar, hoje quero falar sobre um dos meus favoritos: o Centro da cidade.

Geograficamente, o Centro já não fica mais no centro do Rio, mas os Cariocas mantiveram o costume de dizer que vão ao Centro da cidade.

Como vocês já sabem, os portugueses chegaram às terras brasileiras em 1500. Em janeiro de 1502 entraram de navio pela Baía de Guanabara, que pensaram ser a foz de um rio. Foi daí que veio o nome da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, fundada por Estácio de Sá anos mais tarde, em 1º de março de 1565.

Inicialmente a cidade foi estabelecida bem na entrada da baía, entre o Pão de Açúcar e o Morro Cara de Cão (na foto acima). Dois anos depois, Mem de Sá transferiu a cidade para o Morro do Castelo, que ficava na parte do Centro hoje conhecida como Castelo. A população então começou a se estabelecer na Várzea, a região plana entre os morros de São Bento (na Praça Mauá, onde fica o mosteiro), de Santo Antônio (na Carioca, onde fica o convento) e da Conceição (na região da Gamboa).

Agora que você já se situou geograficamente, quero te convidar para uma viagem no tempo.

Escolhe um dia de sol e pega a barca pra Niterói. Chega lá e volta. Sim, isso mesmo. Pega a barca de volta para o Rio e se aboleta em uma das janelas no lado esquerdo. Você irá cruzar a baía olhando para a entrada dela e para o Morro Cara de Cão, onde Estácio de Sá fundou o Rio de Janeiro. Aí é só apagar na sua mente todas as construções que existem hoje e imaginar a paisagem coberta de vegetação, com umas poucas construções entre o Cara de Cão e o Pão de Açúcar.

Encontrei a imagem no blog Um Professor de História

Sempre que preciso ir a Niterói faço isso. Essa viagem no tempo é diversão garantida. Me imagino como um dos portugueses que veio para o Rio. Navio era o meio de transporte e a baía era a porta de entrada. Essa era a primeira visão que o português teria da sua nova terra.

Antes de chegar ao Rio, vá para a frente da barca. Avance alguns anos na viagem no tempo e imagine a Praça XV como era depois que a cidade foi transferida para o Morro do Castelo e a população começou a se estabelecer na Várzea.

Encontrei a imagem no blog Um Professor de História

A Praça XV na verdade terminava onde hoje fica o Chafariz do Mestre Valentim, aquela “casinha” de pedra com um telhado pontudo, perto do Paço Imperial. Sabe por que o chão em frente ao chafariz é mais baixo que o nível da calçada? Porque o mar chegava ali!

Um português chegando de navio ao Rio no final do século XVI veria à direita do Paço Imperial a Rua Direita, atual Rua Primeiro de Março. Só haveria casas no lado ímpar, porque no lado par ficava o mar. Com o passar do tempo a região foi sendo aterrada e construções foram surgindo no lado par. Lembre-se que os prédios altos da Primeiro de Março não estavam lá, então nosso português hipotético veria os morros que circundavam a Várzea e as igrejas neles edificadas. Seria uma visão gloriosa de toda a beleza natural do Rio!

Fonte: Atlas Digital da América Lusa. Detalhe da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro em desenho de autoria desconhecida no final do século XVII.

Não deixe o desembarque na Praça XV acabar com sua viagem no tempo. Aproveita para andar pelo Centro da Cidade com olhos de turista. A gente passa por aquelas ruas e prédios antigos sempre correndo e mal se dá conta de que eles existem! De preferência escolha uma manhã de sábado para sua viagem no tempo. Haverá bem menos gente que nos dias úteis, mas ainda haverá movimento para que você se sinta seguro. Caminhe sem pressa, olhando pra cima — quando a gente tá na correria só olha pra baixo, pra fugir dos buracos no calçamento. Admire a beleza da cidade, que normalmente só os turistas enxergam.

Você também costuma viajar no tempo usando a imaginação? Me conta nos comentários.