Se você veio aqui buscar uma resposta pra esse questionamento, sinto muito mas não sei responder. No entanto, se você gostaria de refletir sobre o assunto, te convido a continuar a leitura e compartilhar suas ideias nos comentários.

No passado, quando era tudo mato na internet, eu adorava ler blogs e como eu havia muita gente. Lendo sobre o dia-a-dia e sobre os interesses dos blogueiros a gente se conectava, mesmo que sem escrever nada nos comentários. Eu tinha interesse em tantos blogs, que era mais fácil acompanhar as publicações através de agregadores de RSS, como Feedly, por exemplo. Acompanhei blogueiros/as se casarem, terem filhos, trocarem de emprego, se separem, se mudarem para outros países. Aí a internet começou a mudar.

As redes sociais começaram a ocupar todos os espaços digitais nas vidas das pessoas. Até o Orkut, uma rede social, acabou morrendo talvez porque sua mais importante característica fossem as comunidades onde os usuários se conectavam para trocar experiências e falar sobre interesses comuns. Os blogs passaram a receber atualizações pouco frequentes, depois foram abandonados (como esse aqui), ou mesmo encerrados (como muitos dos que eu lia). Cheguei ao ponto em que desinstalei o Feedly porque já não recebia mais posts.

Com a ascensão das redes sociais, as conexões reais foram substituídas pelas interações efêmeras. Adquirimos o hábito de “rolar feed”, sem pausar em um post por mais do que alguns segundos. Ouso dizer que meio que desaprendemos a ler. Os 140 caracteres do Twitter passaram a ser o máximo de leitura que temos paciência para fazer – e hoje em dia até 140 caracteres são demais! (Sem querer fugir do assunto, deixo aqui uma observação: já cuidei das mídias sociais da minha Paróquia e descobri que muita gente nem sequer lê as (curtas) legendas dos posts, depois ficam perguntando aquilo que está escrito na legenda.)

Aí vem a pergunta que não quer calar: as pessoas mudaram e perderam o interesse nas conexões reais por causa das redes sociais, ou as redes sociais se tornaram vitrines visuais de conteúdos rasos ou inexistentes porque refletem o que nós somos?

Se ler se tornou algo chato, escrever perdeu o sentido. Nos primórdios da internet brasileira esse blog já teve muitos acessos, a ponto de atrair marcas querendo divulgar seus produtos quando o marketing de conteúdo iniciava em terras tupiniquins. Jamais ganhei um centavo com meu blog, mas li vários livros, assisti peças teatrais e ganhei alguns produtos enviados por marcas. Foi divertido, mas quando o negócio começou a se profissionalizar, quem escrevia blog já não podia mais escrever sobre o que dava na telha. Expressões como SEO (search engine optimization), nicho, monetização, entraram no meu vocabulário, enquanto a vontade de escrever posts se esvaía.

A expressão “produção de conteúdo” não existia quando eu comecei a produzir conteúdo para internet apenas por diversão e para me conectar com outros internautas (assim éramos chamados naquela época). Mas produzir conteúdo se tornou chato mais ou menos na mesma época em que achei que deveria instalar no WordPress um plugin de SEO que analisa meu texto e informa se minhas frases estão longas demais, uma vez que os leitores preferem frases mais curtas. Caro plugin, não me interessa se você achar que minhas frases estão longas demais, e neste momento me interessa menos ainda se os leitores são mais propensos a ler frases curtas, quem não quiser que não leia minhas frases longas demais. Att, Rachel.

Eu cansei de ter que definir um nicho para o meu blog, consultar no Ubersuggest os termos mais buscados no Google, e lembrar de trocar os nomes dos arquivos de imagens para facilitar que sejam indexados pelo Google. “Aprendemos” que é isso que o criador de conteúdo deve fazer hoje em dia na esperança de atrair visitantes para seu blog, mas no final não funciona como esperado e a gente desanima de continuar postando.

Recentemente comecei a notar na internet um movimento (tímido) remando contra a maré. Conheço pessoas que tomaram a decisão de fechar suas redes sociais e esta semana li um post no blog (ainda vivo, mesmo depois de todas as mudanças na internet) Vida Organizada, da Thais Godinho, explicando a decisão dela de mudar o rumo da carreira e com isso voltar a produzir conteúdo no blog como fazia antigamente (é mais ou menos isso, mas confere lá certinho o que ela escreveu https://vidaorganizada.com/2024/07/24/ressignificando-o-blog/) Mais interessante até que o post foram os comentários. Várias pessoas se deram ao trabalho de parar um minuto para comentar e todas apoiavam essa volta às origens porque sentiam falta do blog como era antes.

Eu não comentei (sorry, Thais), mas me pus a pensar. Baixei o Feedly novamente e a única inscrição RSS nele ainda recebendo atualizações era o Vida Organizada. Se algum dos meus antigos leitores ainda usa agregador de RSS e ainda tem o Dizer O Que cadastrado, também não recebe uma atualização desde 2018 (o post de janeiro deste ano praticamente nem conta, considerando que só estou voltando aqui em julho). Continuei pensando e resolvi compartilhar aqui minhas reflexões dessa tarde de domingo. Quais as chances que alguém leia este post que já supera – e muito! – os 140 caracteres? Praticamente nulas. Mas e daí? Era assim mesmo quando publiquei meu primeiro texto na internet, num tempo que parece ter sido em outra vida, mas não foi. A partir de hoje me uno ao (discreto) movimento pela re-humanização da internet. Afinal, sempre fui early adopter quando se trata de tecnologia, então adoto esse movimento que nem sei se existe mesmo ou se é só um delírio da minha cabeça criativa.

De uma coisa tenho certeza: foi muito bom colocar as mãos no teclado e digitar este texto sem me preocupar com nada além de organizar os pensamentos de forma (mais ou menos) coerente para que, se alguém vier a ler, consiga entender minhas frases. Aliás, se você leu este post, me recomenda outros blogs legais que ainda estejam ativos para que eu possa repopular o feed do meu Feedly. Desde já agradeço.